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Opinião: Os Filhos do Vento e do Mar, de Sandra Carvalho (Editorial Presença)


 

Filhos do Vento e do Mar
de Sandra Carvalho
 
Edição/reimpressão: 2017
Páginas: 328
Editor: Editorial Presença 
  





Resumo:
Forçadas a fugir de Águas Santas para escapar à fúria de Tomás Rebelo, Leonor e Guida chegam ao porto de Lisboa e confrontam-se com Corvo, o famoso pirata sobre o qual se contam tantas lendas. Horrorizada com a descoberta de que é filha de Diogo, o Açor, Leonor decide disfarçar-se de rapaz quando Corvo a obriga a embarcar no seu navio, protegendo-se assim dos impulsos masculinos. Inconformada com o seu destino, Leonor resolve fazer tudo para escapar aos piratas. Porém, com o passar do tempo, sente a herança do Açor a despertar dentro dela. O segredo que ensombra o passado de Corvo começa a inflamar a sua curiosidade, enquanto estabelece amizade com os homens que tanto temia. Conseguirá ela regressar a Águas Santas e desmascarar a perversidade de Tomás Rebelo, ou o apelo da liberdade e da aventura, conjugado com a vontade de conhecer o seu verdadeiro pai, tornar-se-á irresistível?

Rating: 4/5
Comentário: "Com os Filhos do Vento e do Mar", Sandra Carvalho chegou ao cerne da temática já enunciada para a trilogia sobre a descoberta dos Açores.
Foi um prazer retornar ao universo de Leonor e Guida, especialmente depois de as ter deixado há dois anos num momento crucial de mudança nas vidas das suas jovens. "O Olhar do Açor", o primeiro volume desta saga, foi uma leitura de descoberta (sendo o primeiro livro que da autora em causa) de um novo universo, e tenho para mim que, apesar de ser uma leitura da qual gostei bastante (podem ler a minha opinião aqui), constituiu um esforço de longo alcance, quase que à semelhança de uma prequela, para chegar ao início de "Filhos do Vento e do Mar". Proventura a autora já terá iniciado a redacção da série com uma narrativa em mente, que justifica  o processo narrativo até agora, mas talvez por causa do chamariz da sua promoção (a descoberta dos Açores) assim como uma capa que apelava desde início a mar e a aventura, lembro-me que passei a narrativa anterior a ansiar pelos "barcos". E é precisamente nesse ponto que a autora nos deixou no final do volume passado: numa chegada atribulada ao porto de Lisboa.
Para quem não leu ou já não tem muito presente a história do primeiro volume, não é fácil captaro rumo narrativo, embora possa se possa sentir alguma falta de sustento na compreensão das sequências motivacionais das personagens. Diria, no entanto, que sendo quase que paralela perante a trama inicial, com uma panóplia que personagens novas que preenchem as páginas e as emoções desta continuedade narrativa, não será o impedimento se quiserem saltar o primeiro livro (embora não o aconselhe) directamente para este.
A realidade aristocrática de "O Olhar do Açor" é substituída pelo pragmatismo e pela venturança de "Filhos do Vento e do Mar", onde as duas jovens que incutem o rumo ao enredo se vêem perante novos desafios e necessidades, que as obriga a repensar os seus valores, certezas e meios de sobrevivência. Naturalmente, e tratando-se de um enredo que se quer inserido num tempo histórico, os posicionamentos das personagens estão adaptados à época e pretendem dar voz a considerações consonantes. Como tal, nem sempre é fácil associar-nos à Leonor e gostar dela enquanto personagem, mas tal como as restantes com quem ela interage, existe um prazer em vê-la desabrochar e tornar-se mais real e menos caricatura. É ainda curioso que a realção entre ela e Guida seja repleta de dualidades e subterfúgios, onde a oscilação entre uma e outra contrabalança a postura do par perante o resto do Mundo, mesmo quando estão mais afastadas.
Quando ao novo leque de personagens, Corvo e a sua tripulação criam um conjunto vivo da vida em alto mar, cheio de prestações acutilantes, rápidas e de acção de continuidade, mas também descobertas, aventura, pujança e muita camaradagem de alto mar. O contraste de realidades assim como a constantação de que as necessidades sentidas poderão não ser colmatadas junto dos contextos que lhes são familiares trazem um confronto entre o passado e o presente, as atracções superficiais são substituídas por anseios mais profundos e o encadeamento da acção deixa tudo em aberto para o desfecho do terceiro livro, que se espera que chegue em breve!
A dinâmica do fantástico continua presente, mas desta vez não tão preponderante, e confesso que me atraiu mais esta dinâmica, aliando-se dons sobrenaturais às personagens e não brilhando na sua vez. 
Por fim, não posso deixar de mostrar entusiasmo por finalmente começarmos a desvendar o véu que cobre a vida de Açor, e começar a escortinar quem é o homem de quem todos falam mas com o qual ainda convivemos pouco.
Esperam-se mais aventuras para o próximo volume, sobre o qual estou bastante expectante, e ainda que várias pistas tenham já desvendado alguns dos acontecimentos que de certeza irão suceder-se, faltam ainda uma série de nós para unir toda a trama. Será que finalmente chegamos aos Açores? Espero que sim! Há um certo encontro familiar que vai agitar as águas marítimas por aqueles lados!
Em jeito de curiosidade, e depois de recordar o nome da trilogia, "Crónicas de Terra e Mar", cheguei à conclusão de que o primeiro volume se focou em Terra, o segundo no Mar, e que o terceiro será provavelmente uma mescla de ambos. E com esta conclusão termino esta opinião, em jeito de piscadela de olho.

Livro cedido pela Editorial Presença em troca de uma opinião honesta sobre a experiência de leitura. A editora não se responsabiliza nem detém qualquer influência no conteúdo apresentado na opinião.

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Cláudia
Sobre a autora:
 
Maratonista de bibliotecas, a Cláudia lê nos transportes públicos enquanto observa o Mundo pelo canto do olho. Defensora da sustentabilidade e do voluntariado, é tão fácil encontrá-la envolvida num novo projeto como a tagarelar sobre tudo e mais alguma coisa. É uma sonhadora e gosta de boas histórias, procurando-as em cada experiência que vive.

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